O petiano e suas experiências

 A vida é uma caixinha de surpresas. Disso eu não tenho dúvida, e não poderia deixar de começar esse depoimento de uma outra forma. A surpresa começou ao descobrir no e-mail da turma o cartaz do processo seletivo para um programa que eu, do alto do meu segundo semestre, pouco conhecia – tinha visto uma coisa ou outra apenas. Como sempre fiz com as “chamadas” via email (#FicaDica), li toda proposta do programa. Outra surpresa! Parecia ser tudo que... eu sempre quis fazer: ensino, pesquisa e extensão, “tema livre” (não vinculado a nenhuma especialidade), e com o super bônus da bolsa por tempo indefinido. Com certeza, uma gratíssima surpresa! Não vou mentir que não tinha nenhuma esperança de passar; pretendia ser apenas um “treineiro” pra seleções futuras, já que não tinha um inglês tão afiado nem as notas tão altas quanto alguns “nerds” da minha sala que também faziam a seleção. Eu tinha muito mais que isso, mas não sabia que isso seria valorizado naquele espaço. E as surpresas estavam apenas começando! De brinde, fui selecionado junto com uma colega de sala de quem eu gostava muito (nossas almas se reconheceram desde o ELV!), que graças ao PET viria a se tornar uma das minhas maiores companheiras dentro da faculdade – é você mesmo, (Ka)Mila Fuchs! Então, em meio a minha aula de ética (aquela mesma da sexta-feira), chega um menino do sexto semestre (quase um formando, da minha perspectiva na época) e me chama no corredor. Explicou-me que era membro do PET (e agora eu também, olha só!) e que estava ali para avisar que no sábado iria ocorrer a minha primeira atividade no programa: uma ida à Ilha de Maré. O nosso início não poderia ter sido mais místico: em meio às marisqueiras e pescadores, trabalhando multidisciplinarmente numa caravana de saúde! Se a maré alta levou (mais) um estudante de medicina à ilha; a maré baixa trouxe de volta à “metrópole-continental” um PETIANO – com o emblema forjado na ilha, há de se acrescentar! Ali se iniciou a descoberta de uma vida paralela dentro da faculdade de medicina – não a única que a FMB-Hogwarts me concedeu o privilégio, mas uma das preferidas. Doze estudantes e um tutor que se encontravam religiosamente todas as segundas à noite, incluindo, não poucas vezes, as férias. Aprender a compartilhar daquele espaço foi uma das tarefas mais difíceis e gratificantes que enfrentei na medicina até agora. Digamos que éramos um grupo heterogêneo. Bastante heterogêneo, na verdade! Pelos motivos mais diversos. Mas tínhamos algo em comum: todos estávamos muito dispostos ao diálogo e ao trabalho. A cada reunião que tínhamos em grupinhos menores para discussão de determinadas tarefas, eu tinha a chance de descobrir com felicidade que estava rodeado por pessoas maravilhosas e que, no fundo, não éramos tão diferentes assim. Mais que meu “local de trabalho”, o PET se tornou um lugar onde eu era ouvido e respeitado, mais um refúgio da loucura de toda a pressão do curso médico – além do DAMED (de gestões passadas, acrescente-se), é claro, que já era o “meu canto” desde calouro. Daquelas longas reuniões e diversas variadas atividades surgiram relações profissionais e principalmente sentimentais (daquelas bem arraigadas mesmo!) que levarei por toda a vida, com toda a certeza! Não me canso de agradecer por ter me permitido viver essa experiência durante bem vividos 3 anos e meio. Hoje, me regozijo de ver os meus calouros-petianos - selecionados no pente fino - sendo levados por outras “marés” dando continuidade a toda essa odisséia das mais variadas/criativas formas que só o PET poderia lhes permitir! E claro que ainda dou meus pitacos, vez ou outra. rs. Além dos amigos pra toda vida, trago a certeza de estar pronto para os mais hercúleos desafios que a academia pode oferecer (curricularmente ou não): preparar aula, dar aula, realizar trabalho em comunidade, em creche, em escola, elaborar prova, coordenar processo seletivo, viajar (e viajar, e viajar) para apresentar trabalho (pôster ou comunicação oral, em inglês ou em português, pode mandar que “nóis” dá conta), trabalhar inter-trans-multi-disciplinarmente (seja na organização do projeto de pesquisa ou do reggae do InterPet – afinal, o PETBAÊA está no meu coração!), tratar e costurar língua de boi, realizar atendimento ambulatorial num interior a 12h de distância de ônibus, dormir numa creche no topo de uma ilha remanescente quilombola... é uma lista que não tem fim! De tudo fiz não apenas um pouco, mas muito, nessa longa trajetória. Para não concluir, não há melhor forma do que sair repetindo incessantemente: “É o PET! É o PET! É o PET! É o PET! É o PET! É o PET! ...”

Deivisson Freitas (diretamente de Amsterdã) - Turma 2009.1
 
 
 

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